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Um professor universitário salvo da depressão por Dona 7 Saias
"Eu passei por um processo de cura ali, a cura da alma através dessa senhora".
"A religião salvou minha vida", conta o professor Renan Piedade de sua mesa de trabalho, decorada com vela acesa e uma estatueta do orixá Ayrá — divindade específica do candomblé relacionado ao vento ao seu lado.
Aos 27 anos, ele é professor na pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, mestre em estudos da linguagem e doutorando em letras na mesma instituição e pesquisador. Aos 25, Renan lidava sozinho com a depressão severa e a sobrecarga de ser quem era.
Assim como ele, diversos jovens negros também enfrentam a depressão e ideação suicida no Brasil. Segundo uma análise feita pelo Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social com base em dados do DataSUS, a cada 10 jovens que cometeram suicídio no Brasil em 2016 (dados mais recentes sobre o assunto), 6 eram negros.
A história de Renan sofreu uma reviravolta em abril de 2019 quando ele conheceu sua pomba gira - entidade espiritual feminina - Dona 7 Saias: "Eu passei por um processo de cura ali, a cura da alma através dessa senhora".
Após atravessar esse processo, em 2019, o professor decidiu se iniciar para o orixá: "Ayrá foi a calmaria que faltava em minha vida, a tranquilidade que eu precisava", explica. Logo após esse processo, Renan se viu de volta às salas de aula e precisou encarar olhares maldosos e curiosos durante seu "período de kelê" (momento onde o iniciado precisa permanecer de branco, com restrições e processos específicos), no entanto, a força e importância daquele momento sobressaíram ao preconceito.
"Esse assunto era tolhido, todos sabiam da minha religião mas na minha prática diária isso não podia ser uma pauta.", conta o pesquisador.
Segundo o Censo IBGE de 2010, o candomblé, a umbanda e outras religiões afro-brasileiras possuem o maior índice de pessoas autodeclaradas pretas assim como Renan, chegando a 21,7% dos seus praticantes, quase 15% a mais que o índice no catolicismo. Segundo o doutorando, a religião fez parte do seu processo de conscientização e entendimento racial.
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EDILANA DAMASCENO, DO DATA_LABE COLABORAÇÃO PARA ECOA, DO RIO DE JANEIRO (RJ)